Texto original do Rev. D. Scott Cooper.
Traduzido e abreviado por Natalie Browne.
Na minha última viagem, um homem com quem havia feito amizade descobriu minha profissão e durante o café da manhã, ele me perguntou quais eu acreditava serem os aspectos mais importantes do ministério.
Pensei um pouco e por fim, decidi dar três respostas.
Primeiro, percebi que construir comunidade é importante.
Segundo, disse que as pessoas precisam de um senso de ritual em suas vidas.
E então, por terceiro, coloquei a necessidade que temos de procurar por um significado mais profundo.
Mais tarde, enquanto pensava sobre o tema deste sermão, lembrei-me daquela conversa. Percebi que essas três coisas são, de certo modo, verdadeiras para qualquer igreja: comunidade, ritual, significado. Então, o que fazemos de diferente como uma igreja UU? E acredito que talvez o nosso modo de tratar destes três assuntos seja exatamente o motivo pelo qual o mundo precisa do Unitarismo Universalista.
Imagino que você poderia entrar em qualquer igreja ao longo da Fannin Street, sentir-se confortável e bem-vinda, e encontrar comunidade. Minha irmã e eu fomos criadas na Igreja Metodista, e o marido dela como católico. Numa espécie de “meio-termo”, começaram a frequentar uma igreja episcopal. Lá encontraram comunidade. Mas há uma camada adicional ao encontrar-se numa igreja UU. As pessoas querem os benefícios de uma igreja — a comunidade, o apoio, a orientação moral para os filhos — mas sem o dogma e a retórica frequentemente inflamatória. Além disso, alguns de nós não somos bem-vindos por causa de nossa identidade. Os Unitario-Universalistas nos acolhem.
Doutrinas rígidas e baseadas no medo, práticas excludentes ou ambientes controladores durante a formação de uma pessoa podem causar danos emocionais e psicológicos. Isso acontece devido a sentimentos de vergonha, culpa ou indignidade — algo conhecido como trauma religioso. Igrejas UU podem ser um raro lugar de refúgio espiritual.
As igrejas UU são necessárias em grandes cidades como Houston, mas ainda mais em cidades pequenas. Já preguei em igrejas no leste do Texas que eram os únicos pontos progressistas num raio de quilômetros. UUs querem estar em comunidade com pessoas que compartilham seus valores e que os ajudem a explorar sua espiritualidade, em vez de dizer-lhes no que acreditar. O mundo precisa do Unitarismo Universalista.
Minha segunda resposta foi o ritual. As pessoas dependem de rituais mais do que imaginam. Thomas Moore escreveu o best-seller Cuidado da Alma (Care of the Soul). Nele, ele escreve: “Enquanto a mitologia é uma forma de contar histórias sobre experiências sentidas que não são literais, o ritual é uma ação que fala à mente e ao coração, mas que não necessariamente faz sentido num contexto literal. Na igreja, as pessoas não comem pão para alimentar o corpo, mas para nutrir a alma.”
Rituais são ações simbólicas repetidas regularmente. Eles envolvem movimentos e gestos que transmitem um significado além do literal. As pessoas passam a amar os rituais que acontecem sempre que chegam à igreja. Há conforto na repetição. Já conversei com UUs que são ex-católicos, mas que ocasionalmente retornam à missa porque amam o ritual.
Um bom ritual é como nos lembramos de quem somos e celebramos em quem iremos nos tornar. Nos rituais, as pessoas se reúnem para celebrar serem uma comunidade com identidade comum. O Norbert Čapek sabia da importância do ritual para que as pessoas criassem vínculos. Mas rituais cristãos tradicionais tinham conotações negativas para seus congregantes na Tchecoslováquia. Então, há mais de cem anos, ele olhou para a paisagem ao redor da igreja e se inspirou para criar a Comunhão das Flores, a mesma que nós celebramos aqui.
Em 1980, duas americanas foram convidadas a criar um serviço para uma Convocação Continental. Escolheram um novo símbolo inclusivo da espiritualidade feminina: a água, a Comunhão da Água.
O mundo precisa do Unitarismo Universalista para que pessoas que buscam o conforto e o vínculo do ritual possam participar, mas sem símbolos que já não lhes dizem nada, que estão vazios
Em terceiro lugar, sugeri que vamos à igreja à procura de um significado mais profundo e para fazer as Grandes Perguntas. Contam que uma mulher foi a uma loja de tecidos e escolheu uma renda larga bem trabalhada. Levou o rolo até o balconista, explicou que quería fazer uma camisola e precisa de 31 metros de tecido. Espantada, a balconista perguntou: “Mas por que, em nome do céu, a senhora precisa de 31 metros de renda para fazer uma camisola?” E ela respondeu: “Ah, é que meu marido é unitarista… ele gosta mais da busca do que da descoberta.”
Nós nos reunimos para buscar respostas às Grandes Perguntas que temos. E, diferente de muitas outras igrejas, eu e outros ministros e reverentes, não estamos presentes para fornecer as respostas — muito menos para dizer que alguma seja a única e a correta. Estou aqui para ajudar você a fazer perguntas melhores e talvez mais profundas.
E não poderia dar as respostas nem quisesse, porque elas podem ser diferentes para cada um de nós. Como diz a descrição do nosso valor compartilhado de Pluralismo: “Assumimos o compromisso de aprender uns com os outros na nossa livre e responsável busca pela verdade e pelo sentido.”
Isso é mais difícil do que ir a uma igreja que afirma ter todas as respostas. Há muitos lugares por aí que dirão que já pensaram em tudo e que você só precisa assinar embaixo daquilo que eles já decidiram. É mais fácil do que ter que pensar por si próprio. Mas é trabalhoso e exige tempo descobrir as respostas às Grandes Perguntas que fazem sentido para você — especialmente quando essas respostas podem mudar ao longo da vida.
Mudando um pouco o foco daquela reflexão no café da manhã, quero compartilhar uma hipótese que vem rondando a minha mente há algum tempo. Ela envolve algumas dessas igrejas que afirmam ter todas as respostas. Acho que a ideia é oportuna — e percebi que talvez também ajude a explicar por que o mundo precisa do Unitarismo Universalista.
O conceito de hoje que tentarei conectar à religião é o da Dissonância Cognitiva. Este é um termo psicológico que se refere à ansiedade ou ao desconforto que resulta de manter simultaneamente atitudes ou crenças contraditórias ou incompatíveis.
Esse desconforto é provocado quando as crenças entram em choque com novas informações, ou quando se precisa resolver mentalmente uma questão que envolve lados conflitantes. Nós humanos tentamos resolver o conflito reformulando um dos lados para tornar a combinação coerente ou encontrando uma forma de reconciliar as contradições para reduzir o desconforto.
De acordo com um artigo no site Andrews University Seminary Studies: “Muitos cristãos sentem uma grave dissonância cognitiva ao tentar conciliar a crença de que Deus é totalmente bom e todo-poderoso com o sofrimento e o mal existentes no mundo. Não agiria qualquer pessoa amorosa e bondosa, que tivesse poder para tal, para impedir o sofrimento horrível que existe no mundo?”
De forma semelhante, eu perguntaria: Por que um Deus totalmente bom e todo-poderoso criaria um mundo que rotularia os erros de sua criação como “pecados” e, em seguida, insistiria que eles só poderiam ser remediados por um sacrifício de sangue ou por tormento eterno?
Você pode ouvir um eco dessa pergunta na citação do grande teólogo e ministro universalista Hosea Ballou: “Não faz sentido lógico que um Deus infinito puna infinitamente pessoas finitas por cometerem erros finitos.”
Um dos meus exemplos favoritos de dissonância cognitiva é essa: “Sexo é sujo, nojento e pecaminoso… por isso, você deve guardá-lo para a pessoa que mais amará, com quem se casará e ficará para sempre.”
Outro conceito que tentamos resolver mentalmente e que contém ideias conflitantes é o da Trindade. Um mais um mais um é um — mas também sâo três. Assim, cria-se uma situação de: “Isto pode não fazer sentido, mas é isso que devemos acreditar.”
Minha hipótese é que, uma vez que as pessoas são condicionadas a aceitar essa dissonância cognitiva na religião, tornam-se mais propensas a aceitá-la em outras partes da vida — como na política. E pior, mais propensas a colocar essa dissonância em prática. Recentemente li uma frase nas redes sociais: “Quando você é doutrinado em um sistema que lhe dá a ilusão de que é moralmente superior aos que estão fora deste sistema, isso lhe dá permissão para ser cruel, e ao mesmo tempo enquadra essa crueldade como algo divino.”
Essa dissonância cognitiva em ação leva à capacidade de ouvir no domingo: “Porque tive fome e vocês me deram algo para comer”e, na segunda-feira, votar para destruir quase 500 toneladas métricas de alimentos de emergência, financiados pelos contribuintes dos EUA, destinados a pessoas famintas em todo o mundo.
Essa dissonância cognitiva em ação leva à capacidade de afirmar preocupação com a moralidade e, ao mesmo tempo, votar em um homem cujas ações e comportamentos se alinham claramente com os Sete Pecados Capitais: orgulho, ganância, ira, inveja, luxúria, gula e preguiça.
Como Unitários Universalistas, não somos obrigados a acreditar em coisas que não fazem sentido para nós — e, como de fato temos empatia, somos menos propensos a cair nesse abismo de crueldade vestida de moralidade.
O mundo precisa de uma tradição religiosa que não tenha medo de fazer perguntas sobre teologia ou sobre as ações e motivações de políticos. Uma tradição que se engaje em uma busca livre e responsável pela verdade e pelo sentido. O mundo precisa do Unitarismo Universalista.
Mas nem todos os que praticam a política da crueldade sofrem de dissonância cognitiva. Já que ela é a ansiedade resultante de manter crenças contraditórias, se a pessoa não sente ansiedade, não há dissonância. Alguns, aparentemente, simplesmente não se importam.
Recentemente, li uma teoria segundo a qual a popularidade dos reality shows nas últimas décadas tornou mais comum a ideia do jogo de soma zero — aquele em que não apenas uma pessoa vence, mas todos os outros precisam perder. Talvez não nos surpreenda que um apresentador de reality show tenha levado esse modo de pensar não apenas para seus negócios imobiliários, mas também para a política mundial.
Assim, muitas pessoas não apenas querem vencer — querem ver os outros perderem. Eu relaciono isso à incapacidade de sentir empatia. Elon Musk recentemente afirmou que “a empatia é a fraqueza fundamental da civilização ocidental”.
Em Junho, li para vocês esta citação de Gustave Mark Gilbert, psicólogo americano mais conhecido por suas observações sobre líderes nazistas de alto escalão durante os julgamentos de Nuremberg. Preciso compartilhá-la novamente: “Eu disse uma vez que estava procurando a natureza do mal. Acho que cheguei perto de defini-la: a falta de empatia. É a única característica que conecta todos os réus. Uma incapacidade genuína de sentir junto com o próximo. O mal, acredito, é a ausência de empatia.”
Eu quero um mundo onde o amor nos impulsiona a celebrar que somos todos seres sagrados, diversos em cultura, experiência e teologia. O mundo precisa de uma tradição religiosa que vê cada pessoa como inerentemente digna, com direito a florescer com dignidade, amor e compaixão.
Não um mundo onde apenas o vencedor tem esses direitos e os outros sejam privados deles. Nosso objetivo é garantir que todos possam prosperar e florescer.
É por isso que o mundo precisa do Unitarismo Universalista.